Tenente teria ameaçado médico e cartório para receber apólices de R$ 2,5 milhões

O delegado Tales Gomes, da Delegacia de Operações Policiais (Deop), detalhou o esquema que teria sido articulado pelo tenente da Polícia Militar do Piauí, Alexandre Tupinambá, preso suspeito de matar um caseiro e planejar a morte de outro funcionário para receber indenizações de seguros fraudulentos. Segundo as investigações, o oficial teria contratado apólices milionárias em nome dos funcionários sem que eles soubessem, além de tentar manipular documentos e pressionar profissionais para alterar informações oficiais sobre causas de morte.
De acordo com o delegado, a estratégia do tenente envolvia a transferência de empresas pessoais para os funcionários e a simulação de mortes acidentais para liberar o pagamento das apólices.
“A trama do Alexandre é a contratação de seguros de vida sem os segurados terem ciência desse seguro. Ele transferia uma empresa dele para essas pessoas que ele contratou o seguro: do José de Ribamar, R$ 1,5 milhão; do outro funcionário, R$ 1 milhão. Ele fez toda essa trama e a morte era para ser uma morte acidental, mediante descarga elétrica, para que a apólice pudesse ser paga”, explicou Tales Gomes.
Com a morte do caseiro José de Ribamar, o tenente teria iniciado uma série de pressões e ameaças para alterar a causa do óbito e viabilizar o recebimento da apólice.
“O médico de Santo Inácio atestou na certidão de óbito que a morte teria sido por parada cardíaca, e a seguradora disse que não pagava, porque morte por questão de saúde não é acidente. Então, ele foi questionar o médico se ele não poderia colocar descarga elétrica, e o médico manteve essa questão de ser parada cardíaca”, disse.
Sem conseguir convencer o médico, o investigado teria recorrido ao cartório de Campinas do Piauí. Lá, segundo as investigações, usou uma arma de fogo para intimidar a titular do cartório e obter documentos adulterados.
“Ele foi ao cartório de Campinas do Piauí e, mediante uso de arma de fogo, ameaçou a titular do cartório no sentido de que ela entregasse a declaração que estava arquivada lá. Ela entregou mediante essa ameaça, com testemunhas inclusive. Ele saiu do cartório, passou algumas horas e voltou com a declaração retificada dizendo que teria sido uma descarga elétrica. E, novamente ameaçando a titular do cartório, ela expediu uma certidão de óbito dizendo que a morte do José de Ribamar teria sido por descarga elétrica, para que ele pudesse assim receber esse seguro”, acrescentou.
O delegado destacou que as apólices não foram liberadas. A seguradora considerou suspeitas as circunstâncias da morte e realizou diligências que reforçaram as inconsistências relatadas pelo tenente. Paralelamente, a família do caseiro, desconfiada de tentativas de suborno, procurou a polícia.
“[Os seguros] nos dois casos não foram pagos. Na morte do José de Ribamar, ele ainda tentou fazer um requerimento e, por conta desse requerimento, a empresa do seguro fez diligência em Santo Inácio porque acharam muito estranha a forma como ele morreu. Foi quando a suspeita da morte se concretizou. Ele tentou também subornar as filhas do José de Ribamar acerca da existência do seguro. Ele prometeu dinheiro para que as filhas não falassem para os outros parentes que tinha esse seguro, e isso gerou toda uma desconfiança, e a família também procurou a delegacia para fazer o procedimento”, pontuou.
Tales Gomes afirmou ainda que a Polícia Militar colaborou com o cumprimento das ordens judiciais e que o futuro do tenente na corporação dependerá dos procedimentos internos.
“A Polícia Militar acompanhou as prisões, a corregedoria foi acionada, a Polícia Militar deu todo o apoio para a investigação ser feita. Agora depende dos trâmites relativos à questão da exclusão dele”, finalizou.
Prisão de tenente
O tenente da Polícia Militar do Piauí, Alexandre Tupinambá, já investigado pela morte do caseiro José de Ribamar Pereira Osorio, passou a responder também por tentativa de homicídio contra outro funcionário. O militar está preso desde 18 de outubro, no presídio da Polícia Militar em Teresina, e teve a prisão temporária convertida em preventiva.
Histórico de golpes
O militar também é investigado por golpes financeiros. Alexandre Tupinambá já havia sido preso em junho de 2023, suspeito de aplicar diversos estelionatos em Teresina. Entre as vítimas está a conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Flora Izabel, que teve um talonário de cheques furtado enquanto o tenente trabalhava como motorista dela. A ex-esposa também foi vítima ao descobrir que o apartamento e o carro do casal tinham sido colocados à venda sem seu conhecimento.
cidadeverde



