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Pesquisa aponta que quase 60% deixariam o tráfico de drogas caso tivessem renda estável

A maioria das pessoas envolvidas com o tráfico de drogas no país (58%) deixaria essa condição caso tivesse renda suficiente e estabilidade econômica. O dado integra a pesquisa Raio-X da Vida Real, divulgada nesta segunda-feira (17) pelo Instituto Data Favela, ligado à Central Única das Favelas (CUFA). O estudo foi realizado entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025, em favelas de 23 estados.

De acordo com o levantamento, 31% afirmaram que não sairiam do crime mesmo com uma oportunidade formal. A abertura do próprio negócio é apontada por 22% dos entrevistados como o principal motivador para abandonar a atividade ilegal, enquanto 20% dizem que deixariam o tráfico caso tivessem emprego com carteira assinada.

Embora a maioria nacional demonstre interesse em abandonar o crime, os dados variam conforme o estado. No Ceará, 44% não deixariam o tráfico, enquanto 41% afirmaram que sairiam. No Distrito Federal, 77% permaneceriam, e apenas 7% optariam por sair. Em Minas Gerais, 40% deixariam a atividade e 57% seguiriam no crime.

Renda e permanência no crime

Segundo o estudo, a remuneração é o principal fator que mantém os entrevistados no tráfico. Entre os participantes, 63% recebem até dois salários mínimos (R$ 3.040) e a renda média mensal é de R$ 3.536. Para 18%, não há sobra de dinheiro ao fim do mês.

“A maior parte deles está colocada nas faixas mais baixas de renda, e isso puxa a média para baixo”, afirmou o diretor técnico do Instituto Data Favela, Geraldo Tadeu Monteiro, durante apresentação transmitida pelo canal da CUFA no YouTube. Ele complementou: “Com mais dinheiro, se revela uma grande armadilha, porque, na verdade, o custo-benefício de entrar no crime acaba sendo muito pequeno, uma vez que as pessoas acabam recebendo pouco, entrando em uma vida de muito risco e dificuldades”.

necessidade econômica também aparece como principal razão para ingresso no tráfico. “Exatamente porque recebem pouco dinheiro, essas pessoas entram, por necessidade econômica, acreditando que aquele dinheiro vai ser suficiente para uma vida melhor, e logo descobrem que não é bem assim”, disse Monteiro

OUTRAS ATIVIDADES 

O levantamento mostra que muitos envolvidos no tráfico buscam atividades paralelas para complementar a renda: 36% disseram exercer outro trabalho remunerado. Entre eles, 42% realizam bicos e 24% mantêm pequenos empreendimentos, como barracas de alimentação ou oficinas mecânicas. Outros 16% têm emprego com carteira assinada, 14% atuam em negócios de amigos e 3% participam de projetos sociais.

Das 5 mil entrevistas presenciais realizadas nos locais onde o tráfico atua, 3.954 foram validadas. O questionário aplicado continha 84 perguntas, e os resultados possuem margem de erro de 1,56 ponto percentual, com nível de confiança de 95%.

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

O estudo também traçou o perfil dos entrevistados: 79% são homens, 21% mulheres e menos de 1% se declarou LGBTQIAPN+. Além disso, 74% são negros, 50% têm entre 13 e 26 anos, 80% nasceram e cresceram na mesma favela70% seguem religiões de matriz africana, católica ou evangélica52% têm filhos e 42% não concluíram o ensino fundamental.

A mãe aparece como principal referência afetiva para 43% dos entrevistados. Já filhos e filhas são apontados como figuras mais importantes para 22%. Entre os participantes, 84% afirmaram que não deixariam seus filhos entrarem no crime.

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