Preço da carne deve subir em 2026 após ano de produção recorde no Brasil; veja motivos

Após um período de desaceleração no segundo semestre de 2025, os preços da carne bovina no Brasil devem voltar a subir em 2026. A avaliação é de analistas do mercado agropecuário, que apontam a redução da oferta de bovinos para abate, somada à manutenção das exportações em patamar elevado, como os principais fatores para a tendência de alta no próximo ano.
A queda no ritmo de alta dos preços ao longo do segundo semestre de 2025 esteve diretamente ligada ao aumento expressivo da produção nacional. O Brasil atingiu um volume recorde de carne bovina, ultrapassando os Estados Unidos e se tornando o maior produtor global do produto, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
De acordo com o IBGE, apenas no terceiro trimestre de 2025 foram abatidas 11,2 milhões de cabeças de gado, o maior número já registrado para o período desde o início da série histórica, em 1997. O abate de fêmeas também bateu recorde e superou, pela primeira vez, o de machos.
Consumo mais fraco ajudou a conter preços
Outro fator que contribuiu para a desaceleração foi o limite do orçamento das famílias brasileiras. Segundo o analista Fernando Iglesias, da consultoria Safras & Mercado, a escalada dos preços nos últimos anos reduziu a capacidade de consumo da população.
“A carne bovina ficou tão cara que chegou um momento em que o consumidor brasileiro já não conseguia absorver novos reajustes. Em função disso, houve uma mudança de direção no mercado, com a priorização de proteínas mais baratas, como frango, embutidos e ovos”, afirmou Iglesias.
Exportações seguem firmes
Apesar do chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira, o fluxo de exportações não perdeu força. Segundo Iglesias, a indústria encontrou novos mercados e manteve volumes elevados de vendas externas.
“O fluxo de exportações foi intenso em julho, agosto, setembro, outubro e novembro”, explicou o analista, destacando que a menor presença nos EUA foi compensada por outros destinos no mercado global.
Menor oferta deve pressionar 2026
Para 2026, o cenário tende a se inverter. Após um ano de abate elevado, a expectativa é que os pecuaristas reduzam o envio de animais para o frigorífico e passem a reter fêmeas para reprodução, o que diminui a oferta de gado no curto prazo.
“Para 2026, o consumidor pode esperar preços mais altos pela carne bovina numa análise inicial”, afirmou Iglesias. A combinação entre menor produção e exportações aquecidas deve pressionar os valores no mercado interno.
Atenção ao papel da China
O comportamento dos preços em 2026 também dependerá das decisões da China, principal compradora da carne brasileira. O país asiático estuda a adoção de salvaguardas para avaliar os impactos das importações sobre a produção local.
“Se a China impor cotas muito restritivas, isso pode mudar completamente a dinâmica do mercado”, explicou Iglesias. Segundo ele, restrições severas poderiam ampliar a oferta interna no Brasil e alterar a trajetória de preços prevista para o próximo ano.




