Maioria dos brasileiros se vê como ambientalista, mas neutralidade ainda é alta

No período da COP30, conferência sobre mudança climática que reúne líderes mundiais em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro, um novo levantamento da YouGov revela uma percepção ambígua sobre o engajamento ambiental dos brasileiros.
Segundo os dados, 39% das pessoas entrevistadas afirmam se considerar ambientalistas, somando 23% que “concordam quase totalmente” e 16% que “concordam plenamente” com essa definição. Em contrapartida, 26% não se identificam com a causa, sendo 13% que “discordam quase totalmente” e 13% que “discordam totalmente”. Um grupo expressivo, de 35%, permanece em posição neutra, declarando “nem concordar, nem discordar” da afirmação.
A pesquisa, conduzida com base em uma amostra nacionalmente representativa de 17.874 respondentes, aponta para um cenário de consciência ambiental crescente, porém ainda desigual.
O dado de 39% que se consideram ambientalistas sugere que a pauta verde tem conquistado relevância. Por outro lado, o percentual de indecisos e de céticos demonstra que a identidade ambientalista ainda não é consenso.
“A neutralidade de 35% pode indicar tanto desinformação quanto fadiga diante do excesso de narrativas sobre sustentabilidade; já os 26% que rejeitam o rótulo expressam, possivelmente, uma distância entre o discurso e a prática cotidiana”, avalia David Eastman, diretor geral da YouGov para América Latina. Para ele, os resultados reforçam um dos desafios que a COP30 deve enfrentar: transformar a percepção ambiental em comportamento efetivo. “A pesquisa da YouGov mostra que a sociedade está em transição entre a consciência e a ação, a simpatia e o comprometimento, e a COP30 pode contribuir como ponto de inflexão para deixar mais claro para que lado essa balança penderá”, afirma.
O levantamento também investigou outras dimensões do comportamento sustentável, revelando nuances sobre como os brasileiros se relacionam com o meio ambiente no dia a dia.
Um total de 56.262 respondentes foi questionado sobre o impacto ambiental de suas escolhas alimentares: 54% afirmaram se preocupar com o tema, sendo 29% que “concordam quase totalmente” e 25% que “concordam plenamente” com a afirmação “Eu me preocupo com o impacto ambiental das minhas escolhas alimentares”. Por outro lado, 12% discordam (7% “quase totalmente” e 5% “totalmente”), enquanto 34% adotam uma posição neutra. Os resultados sugerem que, embora o tema da alimentação sustentável já esteja presente na consciência da maioria, ainda há um terço da população que não reflete ou não se posiciona de maneira clara sobre o assunto.
Em relação aos hábitos cotidianos, a economia de energia aparece como uma das práticas ambientais mais difundidas entre os brasileiros. Diante da frase “Tento usar menos energia para ajudar o meio ambiente”, entre um público de 24.329 respondentes, 57% afirmaram concordar (31% “quase totalmente” e 26% “plenamente”). Outros 12% discordam, e 30% permanecem neutros. Esses números indicam que há uma disposição significativa em reduzir o consumo energético, embora parte considerável da população ainda não tenha incorporado o tema de forma consistente à rotina.
Já sobre o consumo consciente também foi tema de análise, mostrando que o bolso ainda pesa na decisão sustentável. Ao avaliar a declaração “Não me importo em pagar mais por produtos que são bons para o meio ambiente”, entre um público de 21.134 respondentes, 56% dos entrevistados afirmaram concordar (30% “quase totalmente” e 26% “plenamente”), enquanto 12% discordam e 31% ficaram neutros. Os dados evidenciam que, embora a maioria demonstre boa vontade em apoiar produtos sustentáveis, a sensibilidade ao preço continua sendo um fator importante, especialmente em um contexto econômico desafiador.
De forma geral, a pesquisa revela que o Brasil vive um momento de transição no campo ambiental: a consciência cresce, mas a neutralidade ainda predomina em vários aspectos.
“O que podemos analisar é que o engajamento prático avança, sobretudo em ações cotidianas como economia de energia e alimentação mais responsável, mas o desafio permanece em transformar essa consciência em compromisso efetivo e duradouro”, conclui Eastman.
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