Banco Central indica que juros devem permanecer em 15% por longo período

O Banco Central (BC) sinalizou que pretende manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano por um período prolongado, mesmo diante das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes do governo. A posição foi detalhada na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nessa terça-feira (11), uma semana após a reunião que manteve a taxa no maior patamar desde 2006.
De acordo com o documento, a decisão reflete a necessidade de garantir a convergência da inflação para a meta de 3%, embora o Banco Central reconheça que o cenário ainda é desafiador. A projeção do Relatório Focus desta semana indica inflação de 4,55% em 2024, acima do teto da meta, que é de 4,5%.
“O Comitê dá prosseguimento ao estágio em que opta por manter a taxa inalterada por período bastante prolongado, mas já com maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, afirma a ata.
Resistência às pressões políticas
A decisão do Copom contraria as reiteradas cobranças do presidente Lula, que voltou a defender a redução dos juros, afirmando que o Banco Central “precisa começar a baixar o juro”. O petista tem argumentado que a atual política monetária trava o crescimento econômico e encarece o crédito.
Outros nomes do governo também reagiram. A ministra Gleisi Hoffmann (PT), das Relações Institucionais, fez críticas diretas ao presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo próprio governo. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou um tom mais conciliador e defendeu a atuação da instituição.
Mesmo com a pressão política, o Copom manteve a Selic em 15% pela terceira vez consecutiva, justificando que a inflação segue resistente e as expectativas do mercado continuam desancoradas — ou seja, afastadas da meta oficial.
“Os vetores inflacionários seguem adversos, com resiliência na atividade econômica, pressões no mercado de trabalho e projeções de inflação elevadas”, destacou o BC.
Inflação deve continuar acima da meta até 2025
As projeções do Banco Central indicam que a inflação deve ultrapassar novamente o teto da meta em 2025, antes de recuar para 3,6% em 2026 e 3,3% no segundo trimestre de 2027. O cenário considera a manutenção da Selic em 15% até o fim de 2025, com redução gradual para 12,25% em 2026.
Incertezas fiscais e energia mais cara
O BC também chamou atenção para riscos fiscais, especialmente após a aprovação da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Segundo a ata, a medida pode elevar o consumo e, consequentemente, pressionar os preços.
“O Comitê seguirá vigilante e não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado”, alertou o documento.
Outra revisão foi feita nas projeções de tarifas de energia elétrica, que agora devem encerrar 2025 e 2026 com bandeira amarela, o que representa cobrança adicional na conta de luz. O BC avalia que isso tende a gerar pressão temporária sobre o custo de vida.
Mesmo reconhecendo melhora pontual nas expectativas do mercado, o Copom reforçou que o nível de desconfiança ainda exige política monetária mais rígida e duradoura.
“Em um ambiente de expectativas desancoradas, como é o caso atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que seria apropriado em outras circunstâncias”, conclui o comitê.
GP1




