Entenda esquema em postos de combustíveis com participação de facção no Piauí

A Operação Carbono Oculto 86, deflagrada na manhã desta quarta-feira (4), revelou um esquema de lavagem de dinheiro, fraude fiscal e adulteração de combustíveis com atuação direta no Piauí. A investigação, identificou um braço financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) infiltrado no setor de combustíveis, com movimentações que ultrapassam R$ 52 bilhões em todo o país, sendo R$ 300 milhões em empresas sediadas no estado.
O Cidadeverde.com busca contato com os envolvidos citados na operação. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
De acordo com o inquérito, o grupo criminoso utilizava empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para disfarçar a origem ilícita dos recursos. Mais de 70 CNPJs e 504 notas fiscais eletrônicas foram emitidos por distribuidoras ligadas à facção.
As companhias simulavam transações de compra e venda de combustíveis usando transportadoras fantasmas e contratos falsos, mascarando a circulação real dos produtos. O presidente do Instituto de Metrologia do Piauí (Imepi), Júlio Macedo, detalhou como o golpe afetava consumidores e o fisco estadual.
“São postos que têm mais de 20 autuações por bomba baixa. A cada 20 litros que o consumidor abastece, 10% é a diferença que não chega ao tanque. Essa fraude pode ser desligada de qualquer local, até pelo celular. As placas eletrônicas recolhidas estão sendo enviadas à perícia do Inmetro”, explicou.
Foto: SSP-PI

Venda de rede de postos levantou suspeitas
O ponto de partida da investigação foi a venda da Rede de Postos HD, com unidades no Piauí, Maranhão e Tocantins. A transação, realizada em dezembro de 2023, chamou atenção pela criação repentina da empresa Pima Energia Participações Ltda., constituída apenas seis dias antes da compra.
A holding, sediada em São Paulo, passou a controlar os postos com apoio de outras companhias, como Mind Energy Participações e Rede Diamante, ligada ao empresário Denis Villani, apontado como articulador das operações no Nordeste.
Villani teria ligação direta com Rogério Garcia Peres, da Altinvest Gestão de Recursos, identificado como operador financeiro do PCC.
Entre os laranjas usados pelo grupo estão Moisés Eduardo Pereira e Salatiel Soido, inseridos no quadro societário das holdings para ocultar os verdadeiros donos. Os antigos proprietários da Rede HD, Haran Sampaio e Danillo Soares, também são investigados.
Foto: Mikaela Ramos / TV Cidade Verde

Modus operandi e impacto econômico
A operação revelou que as empresas compravam postos locais, trocavam a bandeira comercial sem alterar a gestão real e emitiam notas fiscais sobrepostas, obtendo lucro duplo, pela fraude e pela lavagem de capital.
De acordo com a polícia, parte dos recursos era movimentada por fintechs interligadas, dificultando o rastreamento. As autoridades identificaram transferências diretas ao PCC, incluindo uma de R$ 702 mil feita por Villani a uma empresa controlada por laranja. Ainda segundo as investigações, o grupo chegou a iniciar a construção de uma distribuidora de combustíveis adulterados na rodovia que liga Teresina a Altos, que serviria como base regional.
Foram apreendidos documentos, mídias e equipamentos eletrônicos usados nas fraudes. Os crimes apurados incluem lavagem de dinheiro, fraude fiscal, adulteração de combustíveis e associação criminosa.
O relatório final aponta que o PCC consolidou no Piauí uma célula financeira autônoma, replicando o modelo nacional de infiltração em setores formais da economia.
Foto: SSP-PI
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Delegado detalha infiltração do crime organizado
O delegado responsável pela operação, Anchieta Nery, destacou que o PCC passou a investir em atividades lícitas para transformar lucros do tráfico em capital legalizado.
“O foco agora é ganhar dinheiro em atividades lícitas. Pegam o capital do narcotráfico e investem em postos, construtoras e distribuidoras de medicamentos”, afirmou.
Entre os principais alvos estão os empresários Denis Villani, Haran Sampaio e Danillo de Sousa, além de laranjas locais. Anchieta confirmou ainda a inclusão do ex-vereador Victor Linhares que seria um dos investigados no inquérito.
“Essa transação comercial formaliza uma relação pré-existente entre operadores piauienses e pessoas de São Paulo. Esse ex-vereador abriu uma conta na fintech BK Bank, recebeu um PIX de R$ 230 mil e nunca mais movimentou a conta”, explicou.
A BK Bank, segundo o delegado, já havia sido alvo de operação da Polícia Federal por ser usada pelo PCC para movimentar valores ilícitos.
A desarticulação do esquema representa, um avanço estratégico contra o braço empresarial do PCC e um passo importante no combate à lavagem de dinheiro estruturada no Nordeste.
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