Tarifas de Trump têm efeito contrário e destroem empregos industriais nos EUA

Donald Trump anunciou seu tarifaço em abril com a promessa de ressurgimento da indústria dos Estados Unidos. Na prática, o efeito tem sido o oposto: há sufocamento da importação de produtos intermediários de que a manufatura americana depende para produzir, vender internamente e exportar. O resultado tem sido a queda do emprego industrial.
Quase dois terços das exportações dos EUA são de suprimentos industriais e de bens de capital (máquinas e equipamentos), que dependem de importados para ser produzidos. A queda nas vendas para fora deu-se pela perda de competitividade dos americanos, que agora pagam por insumos mais caros. O fato sugere que os EUA estão se afastando das cadeias de fornecimento globais.
Intencionalmente ou não, as tarifas de Trump foram concentradas em bens intermediários e matérias-primas importadas, como a sobretaxa de 50% sobre aço e alumínio, além de uma média de 45% para as compras chinesas, que incluem montanhas de peças e componentes para a manufatura.
As importações de suprimentos americanos para a sua indústria (como esses metais e componentes chineses) representam 22% das compras totais dos EUA e caíram US$ 14,4 bilhões entre março e julho (último dado disponível).
“Em termos relativos, outros países estão ganhando competitividade na indústria em relação aos produtos dos EUA porque Trump aumentou o custo para as empresas americanas produzir”, afirma Richard Baldwin, pesquisador do National Bureau of Economic Research, órgão que monitora recessões nos EUA, e professor da IMD Business School, que tem acompanhado esses dados.
Como outros países não subiram tarifas sobre seus insumos industriais, o movimento de Trump resultou no que Baldwin chama de “aperto manufatureiro” (manufacturing squeeze). Canadá e México estariam entre alguns dos beneficiados pela contração da produção e exportações americanas, com aumento de suas participações no mercado global.
O emprego industrial nos EUA declina desde o governo Richard Nixon (1969-1974) e passou a cair mais rapidamente após o lançamento das tarifas de Trump. Entre abril e agosto, 42 mil vagas foram fechadas no setor.
Embora as exportações americanas representem apenas 11% do PIB (Produto Interno Bruto), elas têm aumentado nos anos recentes, e sua diminuição agora tem potencial para afetar mais duramente setores específicos, como os fabricantes de máquinas e equipamentos (32% das exportações) e de suprimentos industriais (36%).
Para além do emprego, as tarifas também já causam efeitos negativos sobre o consumo, a renda e a inflação americanas.
Segundo relatório de 17 de outubro do Budget Lab, órgão de pesquisas da Universidade de Yale, após mudanças nos hábitos de consumo provocadas pela onda de taxação de Trump, as tarifas médias efetivas de importação no país estão em 17%, maior patamar desde 1936.
Foram as tarifas que derrubaram em US$ 14,4 bilhões as importações de insumos industriais e em US$ 44 bilhões as de bens de consumo entre março e julho.
O Budget Lab estima que o PIB americano perderá 0,5 p.p. (ponto percentual) este ano e outros 0,5 p.p. em 2026 por causa das tarifas. No longo prazo, a economia do país ficaria persistentemente 0,4 p.p. menor. A estimativa é que 2025 termine com saldo líquido de menos 490 mil empregos em todas as áreas.
Em termos de renda, as famílias perderão cerca de US$ 1.800 (R$ 9.700) em 2025, sendo regressivo o efeito das tarifas: a perda de poder aquisitivo para os 10% mais pobres seria de 2,7%, três vezes superior à do decil mais rico.
A queda ocorre pelo aumento de preços de bens de consumo. Segundo o Censo americano, em seis meses até agosto, por exemplo, equipamentos eletrônicos ficaram 14% mais caros, o vestuário subiu 8% e materiais e ferramentas domésticas, 5%.
A guerra tarifária de Trump não afeta só os EUA. Dados de 60 companhias globais compilados pela Thomson Reuters mostram que elas somarão perdas financeiras de US$ 23 bilhões neste ano e outros US$ 15 bilhões em 2026.
Folhapress/cidadeverde



